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Sobre Miss Amy Winehouse & Tim Maia do Brasil

Não é segredo pra ninguém que sou fã (sempre fui) de Amy, mas poucos sabem o quanto isso algumas vezes me custa… Um olhar preconceituoso ou um comentário reprovador lançados por certos desavisados que estão soltos por aí aos montes, para os quais ela não passa apenas de uma “louca drogada”.

Bom, durante os shows dela aqui no Brasil, muito me impressionou a atuação da imprensa, divulgando apenas baixarias, ao invés de usar seu incalculável poder para informar às grandes massas desérticas o que realmente importa. Logo rotularam-na de “versão feminina do Tim Maia” e pronto. O papel dos jornalistas era o de torcer para que acontecesse qualquer escândalo – o que acabou não rolando, e o que vi foi um ótimo show!

Mas vamos ao que interessa. Para quem não sabe, Amy foi uma criança que desde sua mais tenra infância, por forte influência paterna, escutou as melhores e mais incríveis produções do jazz, blues e soul. Vozes como as de Frank Sinatra, Marvin Gaye, Billie Holiday, Sarah Vaugahn, Ella Fitzgerald, The Supremes, The Marvelletes, Martha anda The Vandelas, Ray Charles, Donny Hathaway, The Shirelles e Duke Ellington, embaralam as fantasias da pequena Amy, que já no seu primeiro CD prestou homenagem aberta ao ídolo, intitulando-o Frank – sem contar a clara presença estética dessas divas maravilhosas na indumentária da it-girl.

Nelson Motta, a quem respeito muito profissionalmente, durante a passagem dela pelo Brasil, teceu o seguinte comentário: “Amy é a melhor cantora e compositora surgida nos últimos 15 ou 20 anos. Ela tem uma indiscutível modernidade e ao mesmo tempo uma base clássica de jazz, blues e soul. É a inovação e a excelência, não a ruptura ou a transformação”.

Assim, a mesma “influência montown” que formou musicalmente Miss Amy, em tempos idos também  contaminou o sensível coração de Tim, e deveria ser muito mais por isso a comparação entre ambos do que por qualquer outra coisa. A diferença é que o inebriante Tim era uma explosão genuinamente brasileira da soul music. “Tim uniu o soul da Montown e o funk de James Brown a ritmos brasileiros como o samba, o xote e o baião”.

Kid Vinil, em seu mais recente texto, faz uma louvação aos relançamentos previstos para este ano (como Queen, por exemplo), e inclui em sua lista a novíssima “Coleção Tim Maia”, produzida pela Editora Abril e lançada toda semana nas bancas. Assim que soube, corri pra comprar o meu! A sacada é que, se você se cadastrar, quando comprar o último exemplar (num total de 14) receberá em casa o terceiro e famigerado CD Racional Volume 3, inédito! Só para fãs!

Muito bem, pra terminar bruscamente esse blá-blá-blá, uma frase do Tim com a qual me identifico sem hesitação: “pra mim é o seguinte: primeiramente são os pretos cegos, depois os cegos, depois os pretos e depois os brancos”. Pasquim, 22/9/1970

E viva Tim Maia do Brasil!